21 janeiro 2007

Ao Pintor

A arte e o engenho que puseste
Nas telas da vida, que pintaste,
São marcas eternas, são a prece
Daqueles que partiram e amaste

São memórias de um passado, pinceladas
Em mil cores, dando forma ao pensamento,
Vividas em silêncio tanto tempo,
Ocultas do presente e com temor
De serem para sempre ignoradas
Das mãos miraculosas do pintor.

Falas às rugas do velho pensador,
Ouves a melódica flauta do pastor,
Beijas os seios da moça que, viçosa,
Te eleva a mente e serve, generosa.
Pintas a verde relva - a natureza,
A lua, o sol, o mar. Quanta beleza
Por esses belos dedos vai passar,
Sem teres a sorte de tudo agarrar!

E em mares de tinta banhas o calor
Dum corpo nu, belo e provocador
Pintando quadros de sal e amor!

Eis o gesto que deu vida ao esquecimento!
Eis a obra que deu luz àquele momento!
Eis o homem, eis o génio, eis a cor
Que ao mundo deu sabor com seu talento.

Poeta e amigo Fernando Rodrigues
in "Amores e Desamores" (2006)




"Amores e Desamores" pastel s/ cartão
Ilustração da capa de João António (2006)

1 comentário:

Anónimo disse...

Agora que faz parte da maior galeria de arte do mundo, a sua obra poderá ser vista por muitas mais pessoas e muitas mais pessoas poderão sentir o que vêem - uma obra de significado histórico e muito, muito pessoal. Parabéns pela sua vontade de exprimir aquilo que lhe vai na alma e como diz o seu amigo:

«Eis o homem, eis o génio, eis a cor
Que ao mundo deu sabor com seu talento.»